O projeto de defesa do Baixo Vouga Lagunar, fundamental para a biodiversidade da zona e para a continuidade da prática agrícola, está na estaca zero à espera de financiamento. A Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, Assunção Cristas, visitou Estarreja com o objetivo de ficar a conhecer in loco a região. O presidente do Município, José Eduardo de Matos, alertou para a problemática e para a urgência da implementação do projeto referindo-se a uma “inadiável decisão”, partilhada pelos presentes Deputados à Assembleia da República, Autarcas de Albergaria e de Aveiro, Beneficiários e outras entidades.
Assunção Cristas foi recebida por José Eduardo de Matos, na sexta-feira à tarde, no Centro de Interpretação Ambiental do BioRia, em Salreu. Acérrimo defensor do projeto do Baixo Vouga Lagunar desde que iniciou funções na Câmara Municipal há 10 anos, o autarca explicou vários aspetos específicos e as perspetivas que a zona abarca, começando por explicar a dimensão cultural da Ria de Aveiro, assente numa relação “muito antiga com o homem e fundamental para o seu equilíbrio”, e a simbiose entre agricultura e ambiente.
Uma apresentação de imagens mostrou aos olhos da ministra o passado e o presente da região. Nesse retrato a outros tempos, José Eduardo de Matos recordou a “dimensão agrícola, os cuidados do homem relativos aos ancoradouros, o sal a ser retirado do Esteiro de Estarreja, o segundo porto de sal da Ria de Aveiro, e a importância brutal que a ria tinha enquanto autoestrada de ligação”. Nos dias de hoje, o afastamento do homem é mais visível e vai deixando marcas negativas no território. “Abandono do homem, que deixa apodrecer as estruturas e ancoradouros, a não utilização dos campos, o apodrecer dos barcos, as marés baixas intermináveis, a invasão da água salgada”, descreveu o autarca estarrejense.
Os campos unem os concelhos de Estarreja, Albergaria-a-Velha e Aveiro, totalizando cerca de 3 mil hectares, com mais de mil explorações agrícolas e vários ecossistemas de espécies protegidas. A invasão da água salgada, cuja amplitude de marés é hoje o dobro de há cem anos, e as cheias estão a destruir os terrenos, a produção agrícola e consequentemente o equilíbrio ambiental da zona. O avanço do projeto de defesa do Baixo Vouga, iniciado há mais de duas décadas mas parado há vários anos, possibilitaria o aumento da biodiversidade e o incremento da atividade agrícola, mais vital nos dias de hoje.
Contudo, “a nossa vontade de mexer neste território, de o melhorar, e a necessidade de o fazermos, esbarra sempre, depende sempre do Estado”. José Eduardo mencionou à ministra a origem do problema lembrando que o “Estado é responsável”. As obras do Porto na Barra da Ria de Aveiro “foram efetuadas sem cuidar dos impactos profundos que iam ter em toda a ria, criando alterações brutais com consequências imensas no nosso ecossistema”.